Movimentos Sociais

Não há separatibilidade entre cultura afrobrasileira e civilização brasileira

Não há separatibilidade entre cultura afrobrasileira e civilização brasileira

Não posso afirmar que está correto o que escreverei nas longas linhas abaixo, porém, tenho certeza que valerá para contribuir com o pensar afirmativo da identidade negra . Sou Brancão de Pele, mas, Brasileiro acima de tudo, e sendo assim, Negro de coração e carga genética .

Gosto é das irregularidades das curvas do que a frieza e certeza das retas ,tanto quanto Oscar Niemayer e André Rebouças ( Tá , forcei com o Rebouças) .

Como poucos sabem, larguei a profissão de pseudo design e publicitário, e estudo atualmente Licenciatura em ciências sociais ( Na UCAM) . Graças a este curso conhecí um Professor com P maísuculo, fantástico, chamado Edson Borges . A aula do cara é curta : 50 minutos, porém rica em cultura, resgate histórico e debates punks .

Tinha em mente alguns “Achismos” sobre a questão do negro , que historicamente foi recortado de sua realidade contributiva na formação da identidade da nação brasielira, juntamente com os índios , e Edson ofereceu a turma de Educação e Cidadnia: Movimentos Sociais, uma vasta bibliografia sobre estas questões e propôs um desafio que era analisar o Parecer desenvolvido pelo governo em 2004, balizado pela Lei Nº10.639/2003, e paralelo a isso construir uma síntese sobre a Cultura Afro-Brasileira , baseada nos textos de Joel Rufino dos Santos (“Culturas negras, civilização brasileira”, pp. 5-9), Manuel Diegues Junior (“A África na vida e na cultura brasileira”, pp. 11-27) e Petronilha B. G. e Silva (“Aprendizagem e ensino das africanidades brasileiras”, pp. 155-172) .

Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana .
Justificativas e determinações fundamentais do Parecer .


As políticas afirmativas como a Lei nº 10.639/2003, do MEC e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana são de grande importância para a democratização educacional , além de ser uma tentativa de derrubar a injustiça histórica, presente desde tempos imemoriais,alterando positivamente a realidade vivenciada pela população negra , Realocando de coadjuvantes ( ou inexistentes ) para protagonistas a História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena .

No Parecer, a valorização da identidade do negro e sua contribuição na formação do Brasil , o combate ao mito da democracia racial e a inserção de conteúdos sobre o continente africano e sobre a história do Brasil para o conjunto da sociedade são argumentos balizadores . O Parecer é um instrumento muito importante para a implementação da nova legislação e simultaneamente, serve para a reflexão da questão racial brasileira, apresentando as justificativas e as determinações para a implementação da Lei, fazendo uma abordagem em favor das políticas afirmativas para os negros. É um conjunto de medidas e ações com o objetivo de corrigir injustiças, eliminar discriminações e promover a inclusão social e a cidadania para todos no sistema educacional brasileiro , que historicamente , impediu milhões de brasileiros de acessar ou permanecer nas escolas.

Algumas das justificativas para realização e respeito do Parecer , está exposta na apresentação da SEPPIR (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial ), que destaca a postura ativa e permissiva (no aspecto legal ), diante da discriminação e do racismo realizados diante da população afro-brasileira desde a colônia até atualmente .

O Decreto nº 1331, de 17 de fevereiro de 1854 foi uma grande covardia , pois vetava a participação de escravos nas escolas públicas e condicionava a educação para os adultos negros á disponibilidade de professores , junto com o Decreto N° 7031-A de 6 de Setembro de 1878, que estabelecia que os negros só podiam estudar no período noturno, entre outras estratégias bizarras com o intuito de afastar os negros da escola .

Desta forma, tornou-se impossível um equilíbrio qualitativo educacional entre Negros e Brancos, onde os primeiros são menos alfabetizados em comparação ao segundo grupo, ficam menos tempo na escola durante a vida e ainda vêem suas crianças, obrigadas por necessidade na maioria das vezes, a trabalharem, quantitativamente mais , entre os 10 e 14 anos que as crianças brancas de mesma faixa etária .

Em março de 2003, o Governo Federal sancionou a Lei 10.639/2003 e, instituiu a obrigatoriedade do ensino da História da África e dos africanos no currículo escolar do ensino fundamental e médio, com o intuito de resgatar a contribuição dos negros na construção e formação da sociedade brasileira , e trilhar rumo a uma sociedade democrática, justa e igualitária , que será apenas um sonho, uma utopia, se não for tratada como prioridade por todas as esferas de poder e por toda sociedade brasileira .

O Parecer regulamenta a Lei, propondo uma série de ações pedagógicas para o conjunto da escola, objetivando sua implementação , com a indicação de conteúdos para serem trabalhados pelo currículo em diversas disciplinas, como também indica ações para serem exercidas pelos 3 poderes (executivo, legislativo e judiciário), por exemplo, o investimento na formação de professores, inserção de materiais didáticos que produzem o questionamento étnico e racial do Brasil . Para funcionar bem, o parecer indica que tais ações mais a divulgação das experiências pedagógicas das escolas, junto a articulação entre os sistemas de ensino são vitais, e não devem ser só realizadas pelo Estado, mas também pela sociedade como um todo, para reparar as injustiças e danos materiais, psicológicos, sociais e educacionais sofridos pelos afrodescendentes “brazucas“, principalmente devido a escravidão e pelas políticas explícitas de branqueamento da população, de manutenção de privilégios exclusivos para grupos com poder de governar e de influir na formulação de políticas, no pós-abolição .

O Parecer apresenta a necessidade de se ter um conjunto de políticas de reparação, reconhecimento, valorização de ações afirmativas e política curricular fundada em dimensões históricas, sociais e antropológicas, oriundas da realidade brasileira, objetivando atender as demandas educacionais da população afrodescendente e o resgate de sua cultura, identidade e orgulho, combatendo o racismo e discriminações que os atingem.

Reconhecimento implica justiça e iguais direitos sociais, civis, culturais e econômicos, bem como valorização da diversidade daquilo que distingue os negros dos outros grupos que compõem a população brasileira. E isto requer mudança nos discursos, raciocínios, lógicas, gestos, posturas, modo de tratar as pessoas negras. Requer também que se conheça a sua história e cultura apresentadas, explicadas, buscando-se especificamente desconstruir o mito da democracia racial na sociedade brasileira; mito este que difunde a crença de que, se os negros não atingem os mesmos patamares que os não negros, é por falta de competência ou de interesse, desconsiderando as desigualdades seculares que a estrutura social hierárquica cria com prejuízos para os negros . São as Políticas de reparações e de reconhecimento que formarão programas de ações afirmativas , conjuntos de ações políticas dirigidas á corrigir as desigualdades raciais e sociais , orientadas para oferta de tratamento diferenciado com vistas a corrigir desvantagens e marginalização criadas e mantidas por estrutura social excludente e discriminatória .

De acordo com o Parecer, a escola é o lugar vital para superar o racismo ,desde que se observe que a discussão sobre a questão racial não se limita só ao Movimento Negro e a estudiosos do tema, inserindo-a neste questionamento . Ela enquanto instituição social responsável por assegurar o direito da educação a todo e qualquer cidadão deverá se posicionar politicamente, contra toda e qualquer forma de discriminação. A luta pela superação do racismo e da discriminação racial é, pois, tarefa de todo e qualquer educador, independentemente do seu pertencimento étnico-racial, crença religiosa ou posição política .

O Parecer apresenta um “roteiro” a ser seguido para conduzir as ações pedagógicas dos sistemas de ensino , estabelecimentos de educação e de professores. Assim, temos referências categóricas a serem seguidas e consultadas , tais como :

Consciência Política e Histórica da Adversidade : Conduz a igualdade e a superação da indiferença; a observar o outro tão rico quanto em sua cultura ; fomenta o pensamento crítico em relação as questões raciais , promovendo diálogo entre pessoas de culturas diferentes , tendo no professor um aliado balizado nestas questões , que permitem-no formular concepções não baseadas em preconceitos e construir ações respeitosas;

Fortalecimento de Identidades e de Direitos : Visa a valorização da identidade afro-brasileira, rompendo com as imagens negativas que foram criadas por diferentes setores da sociedade brasileira contra os negros e os povos indígenas, onde na maioria das vezes são apenas um simulacro imagético da escravidão .
Para fortalecer as identidades afro-brasileiras e indígenas é preciso combater à privação e violação de direitos destes grupos e ampliar o acesso a informações sobre a diversidade da nação brasileira ,seja nos grandes centros urbanos, em suas periferias ou nas zonas rurais .

Ações Educativas de Combate ao Racismo e a Discriminações : As ações educativas , a educação em si, é a grande arma contra a desigualdade social e cultural no Brasil . Tais ações (determinações) observadas no Parecer, desconstroem o preconceito já nos corações infantis , tendo o material didático focado no ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, evitando-se distorções, articulando passado, presente e futuro no âmbito de experiências, construções e pensamentos produzidos em diferentes circunstâncias e realidades do povo negro. Não só nos corações infantis , mas promove a continuidade do combate ao racismo ,inclusive na educação de jovens e adultos , e entre todas os sistemas de ensino (federal, estadual e municipal),com a realização de atividades periódicas, com a participação das redes das escolas públicas e privadas,de exposição, avaliação e divulgação dos êxitos e dificuldades do ensino e aprendizagem de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana e da Educação das Relações Étnico-Raciais, divulgação esta que irá possibilitar o “diálogo” entre os 3 poderes sobre o funcionamento e cumprimento do Parecer e transformar-se em uma arma para reverter o quadro de desigualdade social no Brasil.

A educação é a raiz de uma nação . Se pensarmos em Brasil, essa raiz deve ser multicultural, onde cada grupo deve ser respeitado, ouvido e ter sua história e cultura enaltecidas . As ações educativas de combate as discriminações e ao racismo visam isto . O Multiculturalismo não segrega, não fortalece a segmentação nem o confronto entre culturas distintas, mas sim, oferece o diálogo entre elas, e só é possível se inserido desde “sempre” no cotidiano educacional e social das crianças brasileiras.

A grande determinação a ser observada e cumprida é a Obrigatoriedade do Ensino de História e Cultura Afro-Brasileiras e a Educação das Relações Étnico-Raciais, respeitando as Diretrizes normativas desenvolvidas, objetivando oferecer referências e critérios para que se implantem ações, as avaliem e reformulem no que e quando necessário, negociando com as necessidades naturais de cada instituição de ensino .

Nutre-se educadores com questões e respostas étnico-raciais e desmonta o preconceito para resgatar dentro das salas de aula o que historicamente foi negado : a grande contribuição do Negro e do Índio na formação da identidade nacional , “desmarginalizando-os” e trazendo-os para o curso de um rio impressionante chamado Brasil .

História e Cultura Afro-brasileira.
A reconquista da identidade fundadora da nação.
Uma síntese dos textos de Joel Santos, M.D Júnior e P. Silva .

A importância da população afro-brasileira na formação da nossa nação, presente no Parecer, é observada de forma exemplar no Artigo de Joel Rufino dos Santos (Culturas Negras e Civilização Brasileira) , onde indica que não há como separar culturas negras da civilização brasileira . O Artigo promove o resgate da contribuição do negro para a formação da sociedade brasileira, e acrescento que ajuda a derrubar a ideologia da elite etnocêntrica e eurocêntrica “branca” (que existe desde a época colonial) de que tanto o negro quanto os índios são elementos naturais, selvagens , sem cultura que agregue valor ou seja contribuinte para formação da nação brasileira .

Joel defende que para “demarcar o patrimônio afro-brasileiro, bastaria, portanto, excluir o que em nós é pose ou imitação. É o que também parece sugerir o senso comum ao dar o negro como o brasileiro mais brasileiro de todos, o legítimo. Não se é negro só nas expressões sinceras , mas em qualquer situação desde que não se possa ser senão brasileiro. Brasileiros no exterior costumam confessar que só então descobriram não ser brancos. Na mistura de povos e culturas que tem sido a nossa história, o negro afro-brasileiro funciona como enzima – substância capaz de acelerar ou retardar o ritmo das reações que se produziram, ou como o fixador químico das revelações fotográficas.

Foi o Negro que ensinou o proto-brasileiro a falar português. Uma grande influência da ama negra, que amaciou as palavras duras, deixando para o menino branco só as sílabas moles , sem rr ou ss . A linguagem infantil brasileira, e mesmo a portuguesa, têm um sabor quase africano : cacá, pipi, bumbum, tentem ,papá , papato, mimi , auau, cocô,dindinho,bimbinha . Amolecimento que se deu em grande parte pela ação da ama negra junto á criança, do escravo preto ao filho do senhor branco . Quebra-se a solenidade dos nomes nas bocas dos escravos : Franciscos viram Chico, Albertos Bebetos e Manuéis Manes . A linguagem em geral , toda ela, sofreu no Brasil ao contato do sonher com o escravo, um amolecimento .

Observe uma zairense e uma carioca sambando . A língua é a mesma . Nosso português é falado de forma mais negra . O que Verger observou demonstra isso . Ele, francês com 50 anos de Brasil, não perdeu o sotaque natal, porém, nigerianos com 3 meses de Bahia já entram na música do falar do baiano – que é a sua .”

O Futebol, Bumba-meu-Boi e a Capoeira carregam em seu DNA a carga genética dos negros africanos. O monopólio da Representação imagética e cultural do povo brasileiro é do brasileiro branco, e as 3 práticas citadas diminuem um pouco este monopólio. Foram os negros que transformaram nosso futebol de simulacro britânico (Um futebol duro, sem alegria, excludente, elitista, que não aceitavam negros e mulatos na prática do esporte – foi daí que surgiu o pó de arroz do fétido tricolor das laranjeiras, que só permitia a entrada de negros e mulatos no time, se fossem “embranquecidos” ) para um peculiar vitorioso dos trópicos, elevando o Brasil ao país do futebol no cenário esportivo, e esse país tinha a cara do negão mais famoso de três corações : Pelézão, que foi gerado por Zizinho, Leônidas , Fausto e Fried – Cada geração boleira teve um expoente afro-brasileiro .

“O Bumba-meu-boi é um caso perfeito de luta pelo direito de representar . A matriz mitológica estava na África e na Europa, mas a sua difusão no Brasil é uma proeza do negro brasileiro :Onde houve escravidão houve boi . Ao levá-lo a toda parte, subtraindo-o ao contexto cultural europeu, acrescentando-lhe as reminiscências da África, os afro-brasileiros elevaram o bumba-meu-boi a ente de civilização . Fizeram-no patrimônio .

Para se tornar um patrimônio Não basta ser antigo, tradicional,histórico. É preciso que o bem atinja adiante, se arremesse de encontro ao indevassável que chamamos futuro. Dessa definição decorrem as duas características básicas de um bem de patrimônio:
pertinência no espaço e duração no tempo. O patrimônio é um ente de civilização
e não de cultura, sobretudo na sua feição de patrimônio nacional. “ Como separar a cultura negra da civilização brasileira ? Não dá .

“A capoeira é exemplo . Como a encontramos no Brasil antes de 1850, é cultura crioula – praticada por boçais,africanos e crioulos,afro-brasileiros. Como a encontramos na cidade
do Rio de Janeiro do final do século, já faz parte do ethos urbano, cada malta com seu território próprio e sua escusa lealdade partidária. Proclamada a República, começa a ser reprimida em nome da ordem e bons costumes – atingira aí o seu limite de ente cultural.
Lá por 1910, a capoeira carioca encerrava o seu tempo de empuxo para trás, na alegoria
de Aloísio Magalhães ( Bodoque – um impulso pra frente necessita de empuxo para trás) : era apenas uma tradição dos negros. Faltava-lhe o impulso para a frente, o lançamento
no futuro, e esse foi dado pela sua incorporação ao novo esporte, o futebol, que estava se nacionalizando e massificando: a maneira brasileira de jogar futebol é o desdobramento natural do jogo de capoeira. A capoeira, nesse momento, torna-se patrimônio brasileiro e, como tal, um ente de civilização – isto é, um produto sofisticado resultante do encontro de tradições diferentes. Mais que um produto, aliás, um processo. Um conjunto de circunstâncias da história brasileira permitirá aos negros urbanos continuar a tradição da capoeira no interior do novo esporte. “

A discussão sobre o que é um bem cultural é antiga, mas a definição exposta no artigo de Joel, como o mesmo diz, é inteligente . É um bem, que vem do interior de um contexto cultural determinado que penetra no indevassável … O futuro .

“Encontramo-nos, pois, diante de um processo civilizatório em que as culturas negras representam o núcleo pesado. Ao dizer civilização queremos significar encontro prolongado de culturas distintas, gerando produtos novos e sofisticados e, ao dizer culturas nomeamos os campos de força em que se condensam as representações e os sentidos. Essa percepção é antiga no pensamento brasileiro, vem pelo menos da segunda metade do século passado, quando se tratou de projetar a nação designando um lugar para a maioria negra e mestiça excluída da “cultura”. Nos anos setenta, com a emergência dos Movimentos negros, acentuou-se o que diferenciava negros de brancos, mas isso só funcionou como tática – digamos assim – de luta organizada contra o racismo. Efetivamente,
brancos e negros são, no Brasil, desiguais sociais e, frequentemente, muito desiguais.

Democracia racial nunca passou aqui de atroz ironia. No campo das representações e dos gestos – das expressões sinceras – não há diferenças importantes entre o brasileiro negro e o branco. A discriminação dos não-brancos fica sendo entre nós, portanto, uma espécie de esquizofrenia – a divisão da mente com a subsequente rejeição de uma das partes e substituição da visão realista por fantasias e delírios. Por volta de 1950, um sociólogo brasileiro, hoje esquecido, Guerreiro Ramos, chegava conclusão: o “problema do negro” é
mero sintoma da patologia do branco. Guerreiro não negava, é claro, a vertente cultural
– simbólica, diríamos hoje – das problemáticas negra e indígena. O que não aceitava
era cede -Ias ao domínio da antropologia – uma classe de estudos que, sintomaticamente,
sempre foi mais desenvolvida nos estados de maior presença negra .Ou se considerava o negro como protagonista social e político, sem distingui-lo do auto-denominado branco, ou
nada. Não haveria, pois, uma negritude a reivindicar, mas uma povidade.

Negro deixa de ser uma ‘raça‘, ou mesmo uma condição fenotípica e passa a ser um topo lógico instituído, simultaneamente pela cor, pela cultura popular, pela consciência da negritude como valor e pela estética social negra. Qualquer indivíduo brasileiro pode ocupar esse lugar, mesmo que lhe falte eventualmente uma daquelas condições, e desse lugar visualizar a sociedade e a civilização brasileiras. Visualizar desde dentro, desde a enzima,
desde o seu núcleo pesado que são as culturas negras – ou negro-brasileiras,para distinguir das negroafricanas de que proximamente descendem.”

Uma descendência forçada pela escravidão do negro africano pelos brancos ibéricos .

Manuel Diégues Junior, dentro da mesma Revista , segue Joel Rufino dos Santos Em seu Artigo : “A África na vida e na Cultura do Brasil“, e começa observando a chegada dos negros africanos nas Américas, trazidos pelos brancos ibéricos . “O maior movimento de imigração forçada “, segundo Diégues .

Devido , talvez, a vontade de negar um passado escravocrata para balizar o novo panorama : o Brasil República . Logo no início da Republica foram destruídos um sem número de documentos referentes á escravidão no País, destruindo possibilidades de estudo sobre , negando e relegando a zero 300 anos de trabalho escravo, como se não tivesse ocorrido, impossibilitando um censo e descoberta das origens dos negros, aqui forçadamente, chegados, como produto , apenas mão-de-obra . Diégues cita em seu artigo algumas origens possíveis dos negros : Angola, Guiné e Congo .

Se não ocorresse essa forçada imigração dos negros o Brasil poderia se tornar em uma imensa “Ilha‘, devido a inabilidade dos índios com mineração (e sua luta contra o trabalho escravo, e não aceitação da invasão de suas terras) e a aversão ao trabalho encontrada nos portugueses, isto observado, dentro da ótica dos povos ibéricos .

O autor observa como se procedeu as relações “brasileiro-africanas” e suas manifestações. Com certeza a primeira grande contribuição para formação da nação brasileira foi o Trabalho, logo após o povoamento e desenvolvimento de centros urbanos .

“No extremo norte o elemento negro começa a aparecer no século XVIII…a região Amazônica, … Introduzidos negros possuidores de técnicas especializadas, na qualidade de operários; esta situação de habilidade técnica, em nível acima do normal de a esses operários negros prestígio fora do comum na região, onde que melhor se conhecia era o indígena em nível cultural ainda primitivo “

Particularmente, não concordo com Diégues, nem com ninguém que mensura cultura como primitiva e civilizada, pois está hierarquizando, tabelando “eurocêntricamente” as culturas, relegando os índios a selvagens. O que me estranha tanto no texto de Díegues, no de Joel e no Parecer é que pouco se fala das questões indígenas, que na minha modesta opnião, são os verdadeiros brasileiros “in natura” merecedores desta linda terra .(não selvagens,nem confundidos como vegetação, mas ricos no que diz respeito a adaptação aos meios naturais de sobrevivência, entre outros fatores que não pretendo me alongar )

Voltando as relações brasileiro-africanas . Com a expansão povoadora realizada, abriu-se um leque de novas opções econômicas e necessidades , partindo de regiões diferentes do Brasil . Rio de Janeiro abastecia Minas e Sampa, assim como Bahia e Pernambuco abasteciam as regiões próximas a eles e “importavam para o mercado interno” (dói escrever isso, me faz lembrar de uma música que ouvi do “Seu Jorge” – A carne mais barata do mercado é a carne Negra ) inclusive para o Sul do país .

É curioso ler o texto de Diégues . Em poucas páginas resume de forma interessante o vai-e-vem do negro escravo no Brasil . Vale observar um ponto fundamental e óbvia para perceber a visão que os senhores brancos absorviam da cena negra no país : Mercadoria, uma máquina . Tratados como insumos que não podiam se insultar com tais práticas, mas que insultavam certos senhores, que enciumados não permitiam a comunicação entre capitanias “rivais” no mercado nacional,.Pernambuco e Bahia sentiam-se prejudicadas por negros escravos estarem sendo vendidos para mineração . Mas Minas Gerais foi o portal mágico do povoamento do Brasil, a meu ver .

Devido as Bandeiras e exploração auríferas e diamantíferas, os negros iam aos “lotes” (dentro da visão do senhor escravista) para lá, partindo de Minas,não tinha jeito, e com isso, Goiás e Mato Grosso foram crescendo, e tornando-se, mais uma vez a meu curioso ver, a localidade mais brasileira, culturalmente , devido a mistura fantástica de todas as regiões do país, tendo um viés indígena e africano em suas raízes .

Posso até estar errado, mas acredito que a miscigenação devido a imigração e migração na região central do Brasil desenvolveu o exemplar mais complexo, culturalmente falando , do nosso povo , onde observamos a necessidade de políticas afirmativas para a população Negra e Indígena , visto que a população , principalmente de Mato Grosso , que segundo pesquisa de autodeclaração do IBGE apontou que, 55,2 % das pessoas, de um Universo de 2.803.274 de pessoas, diziam-se Pardos, enquanto apenas 7,0% da população dizia-se Preta .

Tal pesquisa revela que o quesito cor, apenas ela, não condiz com a realidade . Dentro de um “achismo” quase que leviano, acredito que mais da metade das pessoas pardas, são na realidade Negras com autoestima baixa, que não reconhecem a cultura Afro-Brasileira como pilar da formação da nação . Também não concordo com a classificação Parda, acredito que negritude e movimento cultural negro está acima de cor somente .

Mais uma vez, voltando o foco para Diegues . Ele faz uma síntese sobre a cobertura nacional do elemento negro, que através da necessidade de trabalho , nem sempre só rural devido sua habilidade , foi migrando para todos os cantos do Brasil , colaborando em novas atividades econômicas também em empregos industriais que começaram a surgir pós tráfico de escravos (1850) e com a abolição (1888) .

“…neste acompanhar da expansão povoadora da terra …o negro foi se espalhando …dando o ar de sua presença … Irradiando sua influência em diferentes aspectos culturais da vida brasileira . Desta forma, numa síntese que se pode traduzir como expressão da verdade, todo território brasileiro se cobriu do elemento negro . Não faltou este em nenhuma das capitanias, nem mais tarde nas províncias, como não falta hoje nos estados. “O Negro africano e seus descendentes estiveram, e estão, presentes constante e continuamente, em todo território brasileiro, sempre dando á nossa formação o melhor de sua contribuição . “

“Continua presente na vida econômica do Brasil, e esta presença vai se diversificando, de conformidade com a própria diversificação econômica, que assinala o desenvolvimento nacional “

Agora , o viés é a contribuição do negro no desenvolvimento do espírito nacional . A maior contribuição do negro , neste sentido de identidade e espírito, foi a luta pela liberdade e as manifestações contra a servidão escrava, contra a repressão de sua cultura . A forma mais clara de manifestação foi a formação de quilombos , que lutavam pela liberdade de se ter uma organização e estilo de vida próprios . Palmares, o mais famoso, produziu o Herói brasileiro Zumbi , símbolo maior da negritude, por significar luta pela liberdade, resistência e ser um ícone do poder cultural do negro , em meu ponto de vista . O lado negro da força não é o maligno, falácias populares como “a coisa ta preta” mostram o quanto nas entrelinhas a população brasileira sofre com dualidades em seu pensamento : Por um lado
“a coisa ta preta” por estar difícil, sofrida, assim como a vida dos incipientes negros brasileiros, por outro lado reconhece um passado que foi negligenciado no inconsciente popular , um passado de muita luta, de dificuldades, porém superadas .

“ O quilombo representava uma forma de reação do negro escravizado contra a escravidão;não era ele um passivo,indiferente á sua situação, aceitando o domínio escravagista . Ao contrário: não podendo reagir por outras maneiras, fazia-o através do suicídio, de atentado ou crime contra o senhor, da fuga, da formação de quilombos . De negros fugidos, por exemplo, estão cheios de anúncios nos jornais do século XIX., alguns donos de escravos oferecendo boas promessas para quem encontrasse o fugitivo . Se no século XIX foi comum este tipo de fuga, menos comum foi, porém, a organização de quilombos – o que justifica pelo fato de á então o povoamento estar bastante disseminado, restando menos áreas desocupadas, nas vizinhanças de povoados ou cidades, para a formação de núcleos Negros “

Preto, enquanto cor, significa escuridão, pavor , mas poderia ser ao contrário, significar luz, mesmo com ausência dela , pois aos olhos de quem observa com cuidado o histórico afro e afro-brasileiro, perceberá pessoas, um povo como um todo, criativo e raiz do mundo inteiro ( Vide Lucy, um fóssil de 3,2 milhões de anos descoberto em 1974 em Hadar, no deserto de Afar – Etiópia), que possibilitou o ócio e enriqueceu a cultura de muitos povos , com sua sabedoria milenar , no trato da terra e dos animais, com habilidades especializadas de trabalho , o que diferencia dos índios (mas sem hierarquizar suas culturas) . Cultura esta que foi deveras importante para formação literária e científica brasileira .

Como Joel Rufino, Diégues não separa as manifestações culturais afro-brasileiras da civilização brasileira propriamente dita . Os 2 autores convergem na importância dos folguedos e na proximidade dos negros com os corações infantis negros, e sua contribuição na formação do idioma e pensamento brasileiro, deixando ser luso brasileiro, mas brasileiro por definição .A Música, as artes plásticas, o teatro e cinema , a literatura e os esportes, não necessariamente em ordem cronológica ,tiveram contribuição do elemento negro nas suas raízes, que transformaram e nacionalizaram influências gringas . Observa-se, agora, a literatura e ciência , no papel de André Rebouças .

André Rebouças, antes de se suicidar e ter seu sobrenome confundido com o Túnel que liga a Zona norte á Sul da Capital do Rio de Janeiro, foi um exemplo de ascensão social do elemento negro ainda no Brasil imperial . Era professor da Escola Politécnica, engenheiro e um pensador que tentava desvendar , como tantos outros um enigma chamado Brasil .

“ …nos seus últimos anos de vida, Rebouças se referia ao Brasil como uma civilização que experimentava o epílogo sem ter conhecido a sua plenitude . Porque quando posta diante da possibilidade de superar o último travo colonial, recusou-se … Em meio ao debate abolicionista, ele demonstrava um entendimento da questão da liberdade distinto daquele que o liberalismo que se consolida no século XIX tornará hegemônico no Ocidente . Neste , estava presente um diagnóstico da natureza utilitária da maior parte da humanidade, o que implicava a consideração de indivíduos movidos por sua disposição inata de barganhar entre si e realizar seu autointeresse . A noção de liberdade , nessa concepção, se conjuga, pois, uma representação do indivíduo como ator isolado, socialmente indiferente e naturalmente egoísta … Em resumo, para Rebouças, liberdade era sinônimo de autogoverno de cidadãos livres, assim tornados pelo fato de não dependerem, absolutamente, de mais ninguém “ (Um enigma chamado Brasil – Botelho,Schwartz – 2009)

Junto a Rebouças, Diégues cita Juliano Moreira, Nina Rodrigues, Tobias Barreto , Barão de Cotegipe, Nilo Peçanha como expoentes “Mulatos” em suas áreas de competência . Nas letras o grande Machado de Assis, um dos mais consagrados escritores brasileiros, que segundo Diegues , em toda sua obra, há um propósito de se esquecer sua origem . Dentro do campo das letras Diégues cita outros autores descendentes de escravos que tiveram projeção na vida nacional : Luís Gama e Cruz e Sousa ( sendo o último um grande, talvez o maior poeta do simbolismo) .

Como Machado de Assís, outros poetas não faziam questão de se afirmarem, se identificarem como negros , ou partidários da cultura negra . Ao contrário eram partidários da cultura branca, talvez até do Brasil Português, do que o Brasil do Neobrasileiro, daquele vindo de fora,(segundo Antônio Cândido – que identifica o neobrasileiro como a mistura do imigrante negro, italiano,japonês, etc como formadores da nova nação) , escravo ou não .

Uma lista numerosa de autores negros não tinham a temática negra em seus trabalhos . De acordo com Diégues, os poetas brancos mais se voltaram para temática negra ou da escravidão , (como Castro Alves no movimento abolicionista) do que os próprios negros .

“ É curioso que um poeta em que o sangue negro estava nitidamente presente como Gonçalves Dias se tornasse antes o glorificador do índio, exaltando suas qualidades, ao proclamar, em “tabira”, que o índio prefere a morte do que a escravidão – franca alusão á situação do negro escravizado . O que aliás, não era culpa do africano . “Contemporânea – mente, talvez tinha sido Jorge Lima o poeta que melhor se voltou para o elemento negro na paisagem social brasileira; Poemas negros … Que são expressivos do que representa o negro em nossa vida social . “

“Pai João remou nas canoas | Cavou a Terra | Fez brotar do chão a esmeralda | Das folhas-café, cana,algodão . | Pai João cavou mais esmeraldas | Que Pais Leme “ (Jorge Lima )

Nas artes plásticas o Século XVII, época barroca, foi o período de projeção do elemento negro , e particularmente os escravos que pode demonstrar toda sua criatividade, que até hoje enriquecem nosso patrimônio histórico e artístico, que representou uma espécie de ascensão social fora das possibilidades dos libertos quanto dosescravos, pois não tinham recursos . São aos homens de cor, escultores, pintores e imaginários , que devemos quase tudo no que se diz respeito ao barroco “brasuca”

É grande a lista de ícones nas artes plásticas, tendo um mestiço gigante em qualidade, pequenino em tamanho e deficiência física : o Nosso Aleijadinho .

“ O que há a registrar ainda, em relação a artistas plásticos negros ou mestiços contemporâneos, é que nem sempre se voltaram para temas africanos, ou de inspiração puramente negra;antes têm usado os mesmos temas, as mesmas técnicas, a mesma inspiração de artistas brancos, nacionais ou estrangeiros, numa integração que traduz, de modo particular, sua participação no espírito artístico do tempo .

O negro manifestou-se e se representa imageticamente na música, no teatro e no cinema .
A contribuição afro-brasileira nestas 3 áreas de cultura , segundo Diégues, se apresentou desde o período colonial, e em pleno regime escravagista, bandas musicais compostas de escravos . “ Há notícias dispersas …em cronistas e viajantes coevos, da existência de bandas ou orquestras formadas por negros “

Diégues não estranha a participação do negro , mesmo como escravo , em bandas e orquestras . “O negro era por natureza musical e sobretudo, cantador . Cantavam os escravos em todas as oportunidades … no trabalho …festas em bailados, carregando fardos ou piano, ou vendendo qualquer mercadoria;cantavam o fandango, o lundu, a chula, os vissungos – estes, ,,,passando a influir nas festas de brancos e em quase toda população . “

A presença do negro na música não foi só na música popular, formando escolas de samba e em atividades de canto em geral, mas também na música erudita com José MN Garcia o padre e com o mestre Villa Lobos . Lobos trabalhou enfaticamente a temática africana nos seus Choros : Danças africanas, Xangô e Estrela é lua Nova , assim como outros expoentes compositores brasileiros contemporâneos a ele, que representavam o elemento negro , ou de cor como classifica Diegues e contemporâneos a nós, hoje , na música erudita e com mais força na popular, tendo inúmeros talentos afro-brasileiros, como o mestre Cartola para nortear um ótimo exemplo .

Diégues lembra a criação da Orquestra Afro-Brasileira no ano de 1942, com o objetivo de estudar e divulgar a música folclórica e os costumes afro-brasileiros . “

O Teatro e o Cinema diferem-se por um simples motivo : No primeiro a uma temática toda voltada ao negro , da para se dizer, devido principalmente ao T.E.N, que existe um teatro negro, coisa que no cinema não se pode fazer . Com o T.E.N Abdias Nascimento buscou a inclusão do negro na esfera de criador cênico. Ao fundar o TEN – Teatro Experimental do Negro, em 1944, Abdias do Nascimento tinha por objetivo primordial inserir o negro no teatro brasileiro enquanto temática e, sobretudo, como criador cênico e intérprete dramático. Mais tarde, Abdias lembrou em um ensaio (“Teatro Negro no Brasil – Uma Experiência Sócio Racial”, Caderno Especial 2 da Revista Civilização Brasileira, 1968) que no século 18 a profissão do ator era considerada “desprezível, a mais vergonhosa de todas, abaixo das mais infames e criminosas, sendo então permitido aos negros – e praticamente só aos negros – se dedicarem ao teatro.

“ De início, deve esclarecer-se que não há propriamente um cinema negro no Brasil, aliás,nunca houve . Embora o Negro seja um elemento presente nas diversas tendências, sobretudo no cinema mais recente, posterior a 1960, o chamado Cinema Novo, nenhum ciclo de filmes se dedicou especialmente ao problema . “

Diégues classifica em 3 diferentes tipos a participação do negro no cinema : Fase primitiva, onde relegava o negro a segundo plano, dentro de uma cópia estadunidense, quase sempre ausente ; Fase paternalista e social, onde surge como sujeito, mas sempre dentro da ótica branca (o preto de alma branca – vide Grande Otelo); e A Fase do Cinema Novo, onde apareceram algumas temáticas sobre a questão negra .

O autor aponta que na produção cinematográfica não existe a presença do elemento negro, não existe uma ótica negra dentro delas, mas apenas atores, coisa que muda se pensarmos em outra área de cultura, não menos importante e com massiva presença autoral negra : os Esportes .

Falou-se em esporte no Brasil, pensou em futebol , que em seu início não permitia negros na prática deste esporte, a ponto dos clubes, como o tricolor das laranjeiras, fomentar o “embranquecimento “ de seus negros jogadores , como citado anteriormente em trecho retirado do artigo de Joel , que apresenta melhor o que representou o negro para o futebol, e conseqüentemente para o Brasil, tendo em vista que o Brasil, ao menos no futebol tinha a cara de um certo menino do interior de minas,como expoente e exportava a identidade brasileira em sua face negra e vitoriosa .

Diégues acrescenta que em outros desportos a participação do “ Homem de Cor “ tem sido nula ou quase nada . Esportes como tênis, pólo aquático e golf, natação e hipismo são praticados em círculos sociais fechados, que excluem o elemento negro . Já no vôlei e basquete o cenário começa a mudar , pois já é visível a entrada do negro nas quadras, e destaca o atletismo com o negro tendo papel importante, já produzindo campeões olímpicos como Ademar Ferreira da Silva , Aída dos santos e José Teles da Conceição, e acrescento eu o nosso “João do Pulo” , menos conhecido como João Carlos de Oliveira .

O esporte é um viés de inclusão na sociedade brasileira, tão importante quanto a educação segundo meu coração . A razão também é partidária deste “achismo” . Se tivesse que produzir uma atividade pedagógica, de inclusão e reconhecimento da contribuição afro-brasileira para a identidade da nossa nação, sem dúvida, optaria por uma atividade esportiva . Primeiramente, apresentaria para minha turma de alunos multiculturais o que era o futebol, por exemplo, antes da chegada ao Brasil e, sobretudo da inserção do negro neste esporte . O conteúdo mostrará o quão duro, violento e sem graça era o futebol bretão ,Sem dribles nem jogo de cintura, sem o swing autoral do negro e seu movimento, quase dança , balizada pela capoeira . Então faria uma atividade , onde jogar-se futebol sem poder driblar, fintar, ou chutar a bola com efeito, apenas passes duros e chutes sem mágica .

Outras atividades interessantes podemos observar na síntese comentada sobre o trabalho de Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva em “Aprendizagem e ensino das africanidades brasileiras . Ela explora algumas formas de se trabalhar em sala de aula com exemplos de saber utilizados pelos africanos . Uma resenha9meio que resumo) do Livro, publicado no site http://www.s , me facilitou a síntese do trabalho de Petronilha, mas excluiu ao meu ver os principais exemplos que ela ofereceu. Observa-se, agora , uma síntese sobre o tal texto, e em seguida exponho os exemplos magníficos que a brilhante Petronilha nos ofereceu .

“Ao dizer africanidades brasileira estamos nos referindo às raízes da cultura brasileira que têm origem Africana. É uma verdade o que vem a ser afirmado, pois todos nós comemos feijoada, cantamos e dançamos samba, e alguns freqüentamos academia de capoeira. E isto sem duvida é influencia africana.

As africanidades brasileiras vêm sendo elaboradas há quase cinco séculos, na medida em que os africanos escravizados e seus descendentes, ao participar da construção da nação brasileira, vão deixando nos outros grupos étnicos com que convive suas influências e, ao mesmo tempo, recebem e incorporam a destes.

A finalidade de estudar africanidade brasileira diz respeito ao direito de descendente de africano, assim como de todos cidadão brasileiro, a valorização de sua identidade étnico-histórico-cultural, de sua identidade de classe, de gênero, da faixa etária, de escolha sexual.
Não há um único estilo de aprender e significar o mundo. Todo esse processo de aquisição de conhecimento e formação de atitude respeitosa de reconhecimento da participação e contribuição dos afros – brasileiros na sociedade brasileira requer que preconceito e discriminação contra esse grupo sejam abolidos, que sentimento de superioridade e de inferioridade seja superado, que novas formas de pessoas negras e não negras se relacionarem seja estabelecida.

Fechando as considerações a respeito de encaminhamento para o ensino e aprendizagens de africanidades brasileiras, convém salientar que tais processos fazem parte de uma pedagogia anti-racistas que tem como exigências o dialogo, a reconstrução do discurso e da ação pedagógicos e estudo da recriação das diferentes raízes da cultura brasileira.

As africanidades brasileiras abrangem diferentes áreas, não precisam em termos de programas de ensino, constituir-se numa única disciplina, pois podem estar presentes, em conteúdos e metodologias, nas diferentes disciplinas constitutivas do currículo escolar.

Para apreender o ponto de vista dos negros brasileiros é preciso estar disposto a vislumbrar o que sua memória guarda por meio de registros da literatura e de toda cultura, especialmente a os afro-brasileiros, pois têm uma relação efetiva na história e construção do Brasil. “Os estudos destas temáticas remetem necessariamente a questões relativas à educação e multiculturalidade da população brasileira, ao que professores e pesquisadores precisamos estar curiosos e comprometidamente atentos”.

E para entender como o conhecimento africano é rico, e ajudar na afirmação de identidade do negro brasileiro, destaco os exemplos que a autora ofereceu em seu texto, para se trabalhar em sala de aula em diversas disciplinas , como : Matemática , Ciências , Psicologia, Educação física e musical, artes plásticas , Literatura, Sociologia, Geografia e História .

Petronilha indica aos professores Trabalharem atento ás Africanidades, representada pelas construções matemáticas africanas de diferentes culturas . Em matemática, indica Trabalhar a Geometria, volume e outras medidas, ilustrando com imagens, para demonstrar o poder ímpar e conhecimentos dos antigos egípcios, que construíram obras monumentais . A autora destaca mostrar fotografias do antigo reino do Zimbábue , que também será exemplo da arte africana . Sugere então uma interdisciplinaridade , e com estas demonstrações, os alunos aprenderão deferentes caminhos trilhados pela humanidade, através de culturas diferentes para construção de conhecimentos que vêm sendo acumulados .

Em ciências observa o fato de se trabalhar o meio ambiente do ponto de vista das Africanidades Brasileiras, percebendo a questão dos territórios ocupados por população remanescente dos quilombos , para conhecer as formas de cultivo e de utilização de recursos naturais sábios, sem ferir o equilíbrio do meio ambiente . A psicologia , focada no comportamento das crianças e adolescentes afro-brasileiros, e como se relacionam entre si e indica obras, como por exemplo de Franz Fanon .

Na Educação Física , nossa grande Petronilha indica a inclusão da copeira e dança em seu currículo, para demonstrar a importância grandiosa de tais atividades para a afirmação da identidade de descendentes de africanos ( indicadas pelos estudos de Reis da Silva-1994- e Ferreira da Silva – 1997 ) . Procede-se da mesma maneira na Educação Musical , nas artes plásticas e na literatura , na prática ocorrerá afirmação de identidade , se observada e realmente praticada dentro do viés africano e comparar as obras africanas com outras culturas e sugerir uma troca de influências .

Nas Humanas como , Sociologia, Geografia e História não poderia ser diferente, tendo em vista que são disciplinas fomentadoras de pensamento crítico e vitais para afirmação da identidade afro-brasileira , principalmente dentro da ultima disciplina, que requer total reparação , resgate e reconhecimento da importância da contribuição do elemento negro .

Na minha opinião, o que mais de interessante foi apresentado no texto da Petronilha, foi a coleta de histórias e estórias, com um diálogo aberto entre professores e alunos , dentro desta disciplina, abrangendo também Comunicação e Expressão e língua portuguesa , com a reunião de textos em um “livrinho” , onde eram narradas acontecimentos com as mais diferentes temáticas, muitas delas com questões afro-brasileiras, que ajudam a conhecer e entender uma comunidade , que no contexto do texto apresentado, era rural, com grande parcela de sua população formada por descendentes de africanos .

A cultura Afro-Brasileira é maravilhosa, grandiosa e rica . Se trabalhada como sugere o Parecer , será um divisor de águas no quadro educacional brasileiro . Torço pelo sucesso deste projeto, que já está em curso, mas precisa ser vigiado de perto, para que não saia dos trilhos nem fique em segundo plano . Chega de relegar esta cultura maravilhosa, ou tentar separá-la historicamente da civilização brasileira . Que a música de seu Jorge seja apenas uma lembrança de um período triste e criminoso contra os negros, em que uma frase resume séculos de ingratidão e exploração : A carne mais barata do mercado é a carne Negra !

A CARNE MAIS BARATA DO MERCADO É A CARNE NEGRA !
BRASIL, LUTE POR JUSTIÇA, DEMOCRACIA E ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO MENTAL , SE NÃO FORÇADA POR ARMAS, AINDA PRATICADA CULTURALMENTE , QUANDO SE NEGA A IMPORTÂNCIA DO NEGRO E DO ÍNDIO NA FORMAÇÃO DO PAÍS MAIS MARAVILHOSO DO MUNDO :
O NOSSO !”

Rafael Leonardo Braga

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